Em tempos de redução da atividade econômica, uma das maiores preocupações da sociedade é com o eventual impacto dessa redução nos níveis de emprego e renda da população. A medida desse impacto pode ser aferida a partir da análise de dados públicos como o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (CAGED).
Os dados do CAGED, atualizados mensalmente, representam uma fonte importante para conhecer o passado e perceber tendências no mercado de trabalho, uma vez que representam o resultado de movimentações de admissão e demissão formalmente registrados pelos empregadores em todo o território nacional. Um saldo positivo na geração de empregos reflete uma expansão da economia, enquanto que um saldo negativo é o resultado de uma recessão, embora os indicadores macroeconômicos que refletem a tendência na geração de riqueza de um país sejam usualmente vinculados às medidas de Produto Interno Bruto (PIB).
Um dos aspectos mais importantes dos dados do CAGED é o seu nível de granularidade. Ao contrário de várias fontes de dados oficiais que publicam dados em níveis mais elevados de agregação (e.g., UF, nível de escolaridade, atividade econômica da empresa etc), a base do CAGED contém uma linha para cada movimentação de entrada ou saída de um indivíduo no mercado formal de trabalho. Dessa forma, é possível produzir análises e visualizações customizadas para responder questões de interesse específico do público interessado nesse tipo de informação.
Neste artigo e nos próximos que publicaremos neste espaço sobre análise de emprego no Brasil com base nos dados do CAGED, buscamos descrever fatos e obter insights com base em visualização de dados previamente preparados para atender a essa finalidade. Neste momento, procuramos avaliar como as variações de emprego ocorrem em diferentes regiões do Brasil e para diferentes setores da economia.
Ao observarmos o comportamento do emprego no mapa acima percebemos facilmente que quase todos os estados do Brasil tiveram um saldo negativo na geração de postos de trabalho. O saldo de emprego calculado para estado considera os movimentos de admissão e demissão para todas os setores da economia no mês de julho/2015. No entanto, ao analisarmos esse movimento para setores específicos da economia, percebemos que esse quadro é diferente, essencialmente porque a influência políticas públicas (locais e nacionais) no cenário macroeconômico e as características das empresas em determinada região afetam os setores da economia de forma diferente, conforme indica o mapa abaixo.
Esse segundo mapa indica que um número maior de estados apresentou variação positiva (admissões maior que demissões) no mercado formal de trabalho das empresas que atuam no agronegócio. Na região Sudeste, por exemplo, apenas o estado do Espírito Santo registrou perda de postos de trabalho nesse setor.
Os dados do CAGED também mostram, de forma muito clara, o desempenho dos municípios de cada unidade da federação na geração de emprego e renda para os trabalhadores. No estado do Ceará, por exemplo, 78 municípios (ou 42% do total) tiveram saldo positivo, embora o estado como um todo tenha perdido 3.411 postos de trabalho em julho/2015. Os municípios São Gonçalo do Amarante, Icapuí e Aracati tiveram o melhor desempenho, em números absolutos, na geração de emprego. Fortaleza, Maracanaú e Sobral foram os municípios que registraram a maior retração no mercado de trabalho.
Ainda considerando os dados de julho/2015, o setor que teve resultado mais positivo na geração de emprego foi construção civil, seguido pelo agronegócio e pela indústria de produtos minerais não metálicos. O setor que teve o pior resultado no estado foi o de comércio e administração de imóveis, seguido pela indústria têxtil e serviço de alojamento e alimentação.
Outras variáveis que também que fazem parte do perfil das empresas e de seus funcionários influenciam de maneira diferente a intensidade e o sentido das variações no mercado de trabalho. A análise dessas variáveis, a partir de dados oficiais do CAGED, será tema de futuros artigos que serão aqui publicados.
O resultado das análises de dados oficiais de emprego pode ser muito útil para a tomada de decisão em diversos cenários corporativos e também para a definição de políticas públicas que estimulem o crescimento e aumento da renda e dos postos de trabalho no Brasil. O uso criativo e eficaz do conhecimento que pode se formar a partir desses dados é o outro importante tema para ser discutido e explorado em nossos artigos.
Fonte: http://blog.opovo.com.br/bigdata/2015/09/04/dados-emprego-brasil/
